sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O FIM DE UMA ESTRATÉGIA V

4. SENSIBILIZAÇÃO
Promover um aumento significativo da separação dos resíduos recicláveis pressupunha garantir uma profunda revolução comportamental nas pessoas e nas empresas ligadas aos resíduos, nomeadamente as ligadas às recolhas.
Há um aspecto que parece não ter ainda sido percebido pela quase totalidade dos players dos resíduos, nomeadamente as autarquias:
A mudança pretendida nos hábitos das populações não se atinge apenas com sensibilização nas crianças em idade escolar!
Esta sensibilização é importante, as crianças são um bom veículo para a mudança de mentalidades mas, se queremos atingir resultados no curto ou no médio prazo, as acções de sensibilização têm forçosamente que ser desenhadas de uma forma mais lata, mais abrangente, envolvendo todas as faixas etárias da população, sem qualquer espécie de excepção.
O primeiro aspecto a considerar é a comunicação transparente dos objectivos pretendidos.
Pretendia-se fomentar a reciclagem de materiais em detrimento da sua eliminação, pelas razões de poupança energética e de preservação de recursos naturais.
Valorizar um primeiro aspecto de carácter ambiental.
O segundo aspecto passa por facilitar a vida a quem adere à tarefa de separação dos resíduos em casa, permitindo a sua recolha selectiva.
Efectivamente o que se vinha assistindo era a uma penalização dos que se davam ao trabalho adicional de separar em casa os resíduos, fazendo por vezes quilómetros com os resíduos nos seus carros até encontrar um local de deposição adequado.
Para quem não separava, as Câmaras tratavam de lhes recolher os resíduos à sua porta enquanto quem separava tinha que percorrer longos caminhos até ao ecoponto mais próximo!
Aumentar a proximidade dos ecopontos era, pois, uma tarefa fundamental.
Em 2005, quando a Tratolixo duplicou a quantidade de ecopontos nas Freguesias de Alcabideche e de S. Domingos de Rana no concelho de Cascais, diminuindo drasticamente a distância a percorrer pelos munícipes até ao ecoponto mais próximo, se havia dúvidas ficaram certezas – no mês seguinte recolheram-se o dobro dos resíduos recicláveis nestas duas freguesias sem qualquer reforço de acções de sensibilização!
Lição a tirar: as pessoas já estão relativamente bem sensibilizadas para o acto de reciclar, mas precisam que este processo seja executável com alguma facilidade.
O terceiro aspecto, de que se deram alguns passos mas que acabou por ser liminarmente recusado pelas Câmaras, é no meu entender um aspecto fundamental para criar a estabilidade financeira na gestão dos resíduos e na viabilização dos investimentos necessários para a sua recolha, tratamento e destino final – dotar o sistema de uma relação causa efeito dos custos destes processos e articular o seu pagamento de forma directa pelos munícipes em detrimento de cobranças directas ou indirectas realizadas pelas Câmaras.
O munícipe deve saber quanto lhe custa uma atitude mais colaborante com a separação dos resíduos ao invés dos custos acrescidos de uma outra atitude de desinteresse sobre esta matéria!
Na génese do PERECMOS foram desenvolvidos alguns conceitos que se pretendia que fundamentassem as medidas a tomar em sede de sensibilização, a saber:
Þ     Relegar para segundo plano o carácter técnico subjacente à gestão dos resíduos propiciando maior proximidade da população
Þ     Considerar a população como agente dinamizador do processo Mobilização da população para o projecto para que o cumprimento das metas e objectivos seja sentido como um trabalho conjunto
Þ     Relacionamento privilegiado com as escolas, colectividade e associações cívicas
Þ     Potenciar boas práticas ambientais
Þ     Fornecer informação alargada dos conceitos subjacentes ao Plano, das suas metas e objectivos
Þ     Associar, ao cumprimento das metas e objectivos, a ideia de que a população está a adoptar correctas práticas ambientais
Þ     Divulgar com periodicidade adequada e de forma alargada, os desvios relativos ao cumprimento das metas e objectivos.
Passemos em revista as medidas tomadas ao nível da sensibilização e os objectivos traçados para cada uma delas.
1.1. Campanha “Quem é que trata o nosso lixo?”
Os objectivos traçados para a primeira campanha de sensibilização realizada pela Tratolixo em 2004 após a aprovação do PERECMOS eram os seguintes:
Þ     Aumentar e valorizar a notoriedade da TRATOLIXO e dos seus serviços;
Þ     Consolidar a marca TRATOLIXO nos demais concelhos como uma empresa ao serviço da comunidade;
Þ     Aumentar o incentivo para a política ambiental;
Þ     Ser excelência em serviços;
Þ     Melhorar relações com os públicos externos;
Þ     Reforçar a imagem institucional da TRATOLIXO como uma empresa pioneira, inovadora e formadora.
A imagem institucional criada pela Agenda Seting era forte e foram usados meios importantes como a Televisão, a Rádio, os transportes públicos (linha de comboios do Estoril, autocarros de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra e imagens de grande formato em locais de grande impacto como a A5 e a IC19).

Esta primeira Campanha serviu para dar a necessária notoriedade à empresa Tratolixo, agora com a responsabilidade de gerir o sistema de resíduos dos quatro municípios e apelar à separação dos resíduos.
Com esta Campanha foi também iniciada a distribuição gratuita de cerca de 100.000 ecopontos domésticos, com o objectivo de facilitar a vida a quem quer separar os seus resíduos em casa.
Esta campanha foi muito bem sucedida.
Na apresentação dos resultados obtidos foram elencados alguns números muito interessantes e que se reproduzem de seguida:
Þ     20.000 pessoas visitaram o Promobus, em Dezembro;
Þ     1.500 crianças foram ensinadas a separar correctamente os R.S.U.
Þ     Foram distribuídos 9.000 ecopontos domésticos;
Þ     3.000 nas instalações da Tratolixo;
Þ     Mais de 37.000 através das Juntas de Freguesia;
Em 2005 foi planeada uma campanha de sensibilização, que pretendia dar alguma continuidade à primeira e consolidar a presença da Tratolixo e dos conceitos da separação e reciclagem dos resíduos em locais específicos.
Os objectivos traçados foram:
- Legitimar, credibilizar e divulgar a Tratolixo, S.A. como a empresa que gere os resíduos sólidos urbanos dos concelhos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra;
- Identificar e chamar à atenção para as metas de reciclagem a que se propõe;
- Sensibilização dos munícipes para a necessidade de separar correctamente os R.S.U.;
- Comunicar a nova marca “ATratolixo está…”.

4.1. Projecto Separa
Em 2005 a Tratolixo decidiu encomendar um estudo ao CEETA e ao ICS sobre as motivações e a disponibilidade das pessoas para a separação dos resíduos e tentar identificar, nos diversos públicos-alvo identificados, quais as acções a tomar que melhor permitam aumentar ou melhorar a participação das pessoas no acto de separar os resíduos na fonte.
Uma especial motivação para este estudo consistiu na percepção da reacção expectável das pessoas para separação de um quinto fluxo – os restos de comida.
Este estudo trouxe um manancial de informação importante à luz do dia para a completa compreensão das motivações e dos comportamentos das pessoas sobre as matérias alvo do estudo.
Das principais conclusões deste estudo destacam-se:

Quanto às razões para não separar, verifica-se que motivos relacionados com os Ecopontos estão na base desta não-prática, sobretudo o facto de o Ecoponto estar muito distante ou nem existir  (sobretudo no caso de ecopontos domésticos) – ver Gráfico 4.1.
De facto, a falta de condições logísticas é a causa principal apontada para a não separação. Mas a falta de vontade de separar RSU, bem como a desconfiança relativamente ao sistema, revelam-se igualmente causas importantes.
Em contrapartida, verifica-se que a melhoria das condições logísticas é apontada como a principal condição necessária ao início do processo de separação de RSU para quem ainda não separa (ver Gráfico 4.2), assim como a existência de mais informação sobre a separação de RSU.
Apenas 20% dos não separadores apontam lógicas de incentivo ou penalização como, por exemplo, a aplicação de multas a quem não separar.


Um último aspecto relevante deste estudo foi a avaliação de que tipo de entidade poderia ser um elemento com maior poder de mobilização das populações para a prossecução do objectivo separar os resíduos.
Dos inquéritos realizados resultou o seguinte quadro:
Com estes resultados a Tratolixo entendeu preparar um segundo projecto com o CEETA e o ICS com vista à dinamização de um programa denominado ECOFREGUESIAS.
Abrangência do projecto:
4 Municípios
53 Freguesias
837 000 habitantes
Iniciativa ECOFREGUESIA TRATOLIXO, que incentivaria as Juntas de Freguesia e a sociedade civil para as actividades de separação de RSU.

4.3. ECOFREGUESIAS
Este projecto, desenvolvido em rede, pressupunha a possibilidade de espalhar os conceitos da separação de resíduos como uma “mancha de óleo”, envolvendo não só as Juntas de Freguesia mas todas as forças vivas presentes em cada freguesia bem como os grupos de cidadãos mais despertos para esta problemática.
O princípio do “passa a palavra”, que é ainda hoje a melhor e mais sólida forma de sensibilização para uma determinada ideia, consistia no principal meio previsto neste projecto.
Um segundo conceito, o “fazer bem e ambientalmente correcto” permitia uma competição salutar entre as freguesias, cada uma mantendo a preocupação de levar ao maior número possível de pessoas as boas práticas e dessa forma alcançar o galardão de “Ecofreguesia”.
Pretendia-se promover a criação de grupos de discussão e dinamização de boas práticas ambientais, as acções de formação e as medidas práticas a implementar.
Optou-se por dividir as Freguesias em três grupos de acordo com o critério população e conforme se exemplifica na figura seguinte:
Foram definidos um conjunto de critérios que tinham em consideração o número de instituições a envolver no projecto por freguesia bem como o número de iniciativas dinamizadoras da separação dos resíduos e o número de iniciativas que envolvessem o espaço público e que se apresentam no quadro seguinte:

Infelizmente, o arranque deste projecto aconteceu depois de se ter dado a remodelação do PERECMOS e a saída da sensibilização da esfera de competências da Tratolixo o que veio a retirar impacto à execução deste projecto.
Esta foi uma altura difícil de explicar para quem está por fora dos processos políticos autárquicos.
A atitude da Tratolixo, ao desenvolver este tipo de projectos, foi tomada como uma ingerência na esfera estritamente política das Câmaras e foi claramente boicotada por algumas delas.
Estreiteza de visão, classifico eu tal atitude.
Por vezes o palco é demasiado estreito para lá colocar alguns egos.
Insistir-se, pode fazer perigar a integridade física de alguns, podendo mesmo acabar por cair do palco!
Conheço algumas histórias assim, e também já protagonizei algumas quedas…

Sem comentários:

Enviar um comentário