quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

QUE POLÍTICA DE RESÍDUOS?


Regresso ao tema porque os anos passam e assistimos a uma inacção gritante nesta matéria por parte do Governo e muito especialmente das autarquias.
Cascais, Oeiras e Sintra são um exemplo, um mau exemplo, de uma confrangedora falta de ideias, de objectivos a atingir em relação à temática Resíduos.
Sintra não consegue sair do mesmo registo medíocre, Oeiras esforça-se por conseguir ser o pior dos piores, abandonando as políticas de vanguarda que implementou nos anos oitenta/noventa, Cascais afirmou, através da Empresa Municipal Cascais Ambiente, uma nova postura no que respeita à limpeza urbana (hoje é claramente dos municípios com mais qualidade no trabalho desenvolvido na limpeza urbana) mas, no que respeita a política de resíduos mostra que está sem rumo.
Estes municípios cometeram um erro crasso ao abandonar o Plano Estratégico de Resíduos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra em 2007.
A reciclagem é um imperativo ambiental. Num planeta com recursos finitos é fundamental o esforço em reutilizar e reciclar os materiais a uso antes de gastar mais recursos para produzir novo. Isto os nossos governantes, os nossos autarcas, até entendem mas não valorizam nem transformam numa prioridade. Lamentável!
Cascais substituiu o esforço real e efectivo na reciclagem por umas iniciativas anuais de recolha de lixo no fundo do mar.
Duas lições podemos tirar desta “nova” estratégia:
1ª Lição: o importante não é reciclar, é aparecer na televisão;
2ª Lição: Cascais parece ter perdoado a um dos autores materiais do desvio da quase totalidade do espólio existente no Museu do Mar nos anos oitenta (eu era o Vereador do Pelouro da Cultura em Cascais nessa altura…). Pelo menos Miguel Lacerda parece ter aprendido a devolver o que recolhe no fundo do mar a quem lhe paga as expedições…Já não é mau…
Uma política de resíduos alicerçados na reciclagem tem custos acrescidos na recolha mas tem vantagens na valorização dos recicláveis e na diminuição dos custos de deposição final.
Mas para resultar tem que ser transformado num projecto da comunidade e para isso a sensibilização tem que assumir novos contornos, tem que chegar a quem separa e transporta os resíduos até à contentorização e não apenas nas escolas!
A reciclagem exige da comunidade disponibilidade para colaborar, para separar na origem mas as autarquias e o estado têm que assumir a sua parte neste processo facilitando aos munícipes as melhores condições para a concretização dessa colaboração.
Ora se os municípios optam por contentorização de maior capacidade que fica mais longe de cada munícipe fácil é perceber que não é muito motivante!
Se não há cuidado na higienização da contentorização as pessoas passam a evitar frequentar esses espaços!
E por último, mas talvez o aspecto mais importante, qual a diferença entre o cidadão cumpridor e aquele que se comporta como se vivesse no século XVIII?
Para isto, as Câmaras estão a assobiar e a olhar para o lado!
Se eu separo em casa e reciclo tenho que pagar a mesma tarifa que o meu vizinho que só entrega resíduo indiferenciado? Porquê?
Enquanto Cascais, Oeiras e Sintra não souberem ou quiserem responder a esta pergunta, com argumentos (que não descortino quais possam ser…) ou com uma mudança de cobrança e cálculo da tarifa dos RSU, vamos continuar a apreciar a desmobilização da população para este desígnio e vamos continuar a assistir à diminuição do peso dos recicláveis no total de RSU produzidos nestes três municípios.

A História podia ter sido diferente…


domingo, 10 de abril de 2016

AS SMART CITIES SÃO DOS “SMART GUYS”?


A revista Smart Cities traz um elogio, merecido, à empresa municipal Cascais Ambiente.
O esforço que esta empresa tem feito na modernização das recolhas seletivas é notório e merecedor de aplauso.
É afinal a continuação de uma estratégia iniciada logo com a criação da Empresa, nos idos 2005, a que tive a honra de ter estado ligado.
Mas não foi um percurso linear, este que a EMAC, agora Cascais Ambiente realizou.
O desenho inicial da estratégia para os Resíduos foi posto em causa por Carlos Carreiras em 2007 e entrou-se num processo de navegação à vista, do pequeno folclore, ao invés de uma estratégia de resíduos sedimentada.
Foram tempos de política espetáculo em substituição do cumprimento de uma estratégia de futuro.
E se este projeto se enquadra também nesta nova forma de gerir resíduos (ou outra coisa qualquer, pois em Cascais tudo pode ser reduzido a espetáculo!...) não é menos verdade que é um passo importante para melhorar a eficácia das recolhas e por essa via diminuir custos, económicos e ambientais. Por isso, e apesar de se perceber uma profunda falta de profundidade estratégica nisto tudo, são devidos os Parabéns à empresa e aos seus gestores e trabalhadores.
Mas, a leitura desta notícia deve levar-nos a um aprofundamento desta questão, a saber:
As medidas tomadas permitem perceber a sustentabilidade das recolhas selectivas ou mesmo o seu incremento?
O que é que a Câmara de Cascais desenhou como nova estratégia depois de ter forçado o abandono do Plano Estratégico de RSU de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra tal como tinha sido desenhado em 2003?
Dei-me ao trabalho de investigar um pouco e o que descobri confirma o que afirmei em 2010: A Câmara Municipal de Cascais, ao acatar a teimosia de Carlos Carreiras e as suas posições acerca desta matéria da gestão de Resíduos acabou por prejudicar gravemente a manutenção do sistema tal como tinha sido desenhado, sem conseguir encontrar uma solução alternativa igualmente sustentável!
Olhemos para o que aconteceu no período 2010 – 2014:
Recolhas seletivas
Ano
Residuos recolhidos (ton)
Variação anual
2010
12096,3

2011
12189,24
0,8%
2012
11865,08
-2,7%
2013
11484
-3,2%
2014
9292
-19,1%

A variação de Recolhas selectivas no período considerado é de -23%!



Recolha indiferenciada
Ano
Residuos Indiferenciados recolhidos (ton)
Variação anual
2010
92012,12

2011
89556,88
-3%
2012
85523,82
-5%
2013
84809
-1%
2014
84883
0%

A variação de Recolhas de RSU indiferenciado no período considerado é de
-7,7%!

Sendo a variação total de RSU recolhidos de – 9,5%, os valores da variação verificados para as recolhas selectivas (resíduos recicláveis) de – 23% significam que há um retrocesso na adesão dos munícipes à reciclagem de RSU.
Cascais está a reciclar menos per capita!
Em 2010 os recicláveis representaram 11,6% dos RSU recolhidos enquanto que em 2014 os recicláveis representaram apenas 9,9% dos RSU total.
Isto quer dizer que a separação diminui e os materiais recicláveis passam a ser recolhidos no indiferenciado porque as pessoas deixam de separar.
Porque é que isto acontece?
Porque a Câmara de Cascais em vez de investir em melhorar o interface entre o munícipe e o serviço de recolha, facilitando a forma de contentorização e diminuindo a distância do contentor à habitação do munícipe, preferiu instalar contentorização enterrada de maior capacidade, o que fez diminuir o número de contentores e aumentou a distância do contentor à habitação do munícipe.
A Câmara preocupou-se em facilitar o seu trabalho aumentando o trabalho reservado ao munícipe…
Claro, tinha que haver desistências!
Enquanto continuar a ser mais trabalhoso separar do que não o fazer, não existindo qualquer benefício para o munícipe cumpridor da separação, que mantém consciência ambiental, o resultado continuará a ser este, diminuição anual da fracção de RSU recolhida selectivamente!
E outra componente sagrada para uma estratégia de incremento da reciclagem é a sensibilização. E sobre isto a Câmara de Cascais fez zero!
Carlos Carreiras convenceu-se que com uma iniciativa anual de recolha de lixo nas praias ou no fundo do mar, com direito a fotos nos jornais e quem sabe uma reportagem numa televisão, a sensibilização estava feita!
Erro crasso. O espectáculo é garantido mas reciclar é uma actividade continuada ao longo do ano. Para isso, é preciso muito mais!
O estranho é que os estudos feitos em 2005 provavam isto tudo mas na Câmara de Cascais preferiram ignorar.
É triste.
Cascais até pode vir a ser uma “Smart Citie” mas para isso vai precisar de ser governada por “Smart Guys”!

Isso, de momento, não é o caso!

segunda-feira, 21 de março de 2016

HORA TRISTE EM CASCAIS


É triste.
Mediático, muito na moda mas ainda assim triste!
Triste porque pouco sério, falso, hipócrita!
Definitivamente falta-me paciência (deve ser da idade) para continuar a ver os cidadãos de Cascais, os munícipes de Cascais, serem tratados desta forma tão mentirosa!
O objectivo que a Câmara de Cascais e o seu Presidente parecem induzir é a preocupação com a preservação ambiental. Mas na prática não passa de um sinal de hipocrisia convicta sobre o que parece bem em Ambiente para os que não se dão ao trabalho de pensar pela própria cabeça.
É acima de tudo uma moda.
Tão na moda como fazer um dia de retirada de lixo da orla costeira ou do fundo do mar…
Fica bem na fotografia mas não serve de nada até ao próximo agendamento… daqui a um ano!
Podíamos falar muito sobre políticas de preservação e poupança de energia.
Podíamos também falar dos gases com efeito de estufa e da forma como a Câmara poderia objectivamente tomar medidas para a sua minimização.
Mas, para Carlos Carreiras não interessa fazer, basta criar a ideia que se está a fazer alguma coisa, nem que seja um folclore de uma hora…
Carlos Carreiras tem uma sensibilidade ambiental parecida com a sensibilidade de um elefante na loja de cristais. Sempre que se mexe…
A mobilidade em Cascais é um caos. 
O que equivale a excesso de emissões de CO2 e a consumos excessivos de energia.
A política de estacionamento não está gizada na ótica do utente e da facilitação da sua mobilidade de e para Cascais mas antes como um mero negócio. 
Quantos mais lugares, mais facturação da CMC.
A rede viária não está desenhada para dar resposta aos munícipes de Cascais, sair de Cascais de manhã e regressar à tarde continua a ser um suplício!
Os transportes públicos não são uma estratégia assumida pela CMC.
Que interfaces existem por exemplo com a linha do caminho-de-ferro? 
Que mecanismos existem que propiciem a sua utilização pelos munícipes? 
Já viram quanto custa estacionamento e passe social? 
Já compararam com o preço da utilização de viatura própria? 
Isto é uma política de minimização de emissão de gases com efeito de estufa?
Senhores autarcas, desculpem o termo: estão-se nas tintas! 
E, malfadadamente, a esmagadora maioria dos seus munícipes recusam-se a perceber que, efectivamente, a maioria que governa Cascais, está-se nas tintas para os interesses dos munícipes de Cascais!
Eu circulo todos os dias no interior do concelho de Cascais em direcção a Sintra. Todos os dias sem exceção, levo com mais de meia hora de pára arranca entre Trajouce e Carcavelos!
Porquê?
Porque a Câmara não quer olhar para soluções parciais e para a solução definitiva daquele problema.
Mais consumos de energia, mais emissões de GEE que podiam ser evitados.
Pela CMC, pelo seu Presidente e pelos seus Vereadores.
Mas não.
Nem lhes pesa a consciência.
Afinal , a CMC aderiu à hora do Planeta...

Ao contrário do que se deseja às grávidas, é pena que esta hora não possa ser…mais longa!