A revista Smart Cities traz um elogio,
merecido, à empresa municipal Cascais Ambiente.
O esforço que esta empresa tem feito
na modernização das recolhas seletivas é notório e merecedor de aplauso.
É afinal a continuação de uma
estratégia iniciada logo com a criação da Empresa, nos idos 2005, a que tive a
honra de ter estado ligado.
Mas não foi um percurso linear, este
que a EMAC, agora Cascais Ambiente realizou.
O desenho inicial da estratégia para
os Resíduos foi posto em causa por Carlos Carreiras em 2007 e entrou-se num
processo de navegação à vista, do pequeno folclore, ao invés de uma estratégia
de resíduos sedimentada.
Foram tempos de política espetáculo em
substituição do cumprimento de uma estratégia de futuro.
E se este projeto se enquadra também
nesta nova forma de gerir resíduos (ou outra coisa qualquer, pois em Cascais
tudo pode ser reduzido a espetáculo!...) não é menos verdade que é um passo
importante para melhorar a eficácia das recolhas e por essa via diminuir
custos, económicos e ambientais. Por isso, e apesar de se perceber uma profunda
falta de profundidade estratégica nisto tudo, são devidos os Parabéns à empresa
e aos seus gestores e trabalhadores.
Mas, a leitura desta notícia deve
levar-nos a um aprofundamento desta questão, a saber:
As medidas tomadas permitem perceber a
sustentabilidade das recolhas selectivas ou mesmo o seu incremento?
O que é que a Câmara de Cascais
desenhou como nova estratégia depois de ter forçado o abandono do Plano Estratégico
de RSU de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra tal como tinha sido desenhado em
2003?
Dei-me ao trabalho de investigar um
pouco e o que descobri confirma o que afirmei em 2010: A Câmara Municipal de
Cascais, ao acatar a teimosia de Carlos Carreiras e as suas posições acerca
desta matéria da gestão de Resíduos acabou por prejudicar gravemente a
manutenção do sistema tal como tinha sido desenhado, sem conseguir encontrar
uma solução alternativa igualmente sustentável!
Olhemos para o que aconteceu no
período 2010 – 2014:
Recolhas seletivas
|
||
Ano
|
Residuos recolhidos (ton)
|
Variação anual
|
2010
|
12096,3
|
|
2011
|
12189,24
|
0,8%
|
2012
|
11865,08
|
-2,7%
|
2013
|
11484
|
-3,2%
|
2014
|
9292
|
-19,1%
|
A variação de Recolhas selectivas
no período considerado é de -23%!
Recolha indiferenciada
|
||
Ano
|
Residuos Indiferenciados recolhidos (ton)
|
Variação anual
|
2010
|
92012,12
|
|
2011
|
89556,88
|
-3%
|
2012
|
85523,82
|
-5%
|
2013
|
84809
|
-1%
|
2014
|
84883
|
0%
|
A variação de Recolhas de
RSU indiferenciado no período considerado é de
-7,7%!
Sendo a variação total de RSU
recolhidos de – 9,5%, os valores da variação verificados para as recolhas selectivas
(resíduos recicláveis) de – 23% significam que há um retrocesso na adesão dos
munícipes à reciclagem de RSU.
Cascais está a reciclar menos per
capita!
Em 2010 os recicláveis representaram
11,6% dos RSU recolhidos enquanto que em 2014 os recicláveis representaram
apenas 9,9% dos RSU total.
Isto quer dizer que a separação
diminui e os materiais recicláveis passam a ser recolhidos no indiferenciado
porque as pessoas deixam de separar.
Porque é que isto acontece?
Porque a Câmara de Cascais em vez de investir
em melhorar o interface entre o munícipe e o serviço de recolha, facilitando a
forma de contentorização e diminuindo a distância do contentor à habitação do
munícipe, preferiu instalar contentorização enterrada de maior capacidade, o
que fez diminuir o número de contentores e aumentou a distância do contentor à
habitação do munícipe.
A
Câmara preocupou-se em facilitar o seu trabalho aumentando o trabalho reservado
ao munícipe…
Claro, tinha que haver desistências!
Enquanto continuar a ser mais
trabalhoso separar do que não o fazer, não existindo qualquer benefício para o
munícipe cumpridor da separação, que mantém consciência ambiental, o resultado
continuará a ser este, diminuição anual da fracção de RSU recolhida selectivamente!
E outra componente sagrada para uma
estratégia de incremento da reciclagem é a sensibilização. E sobre isto a
Câmara de Cascais fez zero!
Carlos Carreiras convenceu-se que com
uma iniciativa anual de recolha de lixo nas praias ou no fundo do mar, com
direito a fotos nos jornais e quem sabe uma reportagem numa televisão, a
sensibilização estava feita!
Erro crasso. O espectáculo é garantido
mas reciclar é uma actividade continuada ao longo do ano. Para isso, é preciso
muito mais!
O estranho é que os estudos feitos em
2005 provavam isto tudo mas na Câmara de Cascais preferiram ignorar.
É triste.
Cascais até pode vir a ser uma “Smart
Citie” mas para isso vai precisar de ser governada por “Smart Guys”!
Isso, de momento, não é o caso!
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