sexta-feira, 13 de abril de 2012

A ESTRATÉGIA DO “GOOD LOOKING” APLICADA AO AMBIENTE?


A Câmara Municipal de Cascais anunciou nos princípios de Abril, com uma ponta de orgulho, a instalação de 528 contentores subterrâneos para Resíduos Sólidos Urbanos, resíduos indiferenciados e recicláveis, nomeadamente as fileiras de papel cartão, plástico e metal e vidro.
É um investimento de 2,5 milhões de euros, com um co-financiamento comunitário de 639.000 euros.
Esta é uma estratégia seguida pela Câmara de Cascais nos últimos anos que sendo apresentada como inovadora e defensora do ambiente é, no meu entender, uma solução errada e exactamente ao contrário daquilo que a CMC e a EMAC deveriam estar a promover na promoção de melhor defesa ambiental de Cascais.
Posso explicar a minha tese.
Não sou contra a introdução de contentorização enterrada em determinadas e específicas situações. Efectivamente há circunstâncias que aconselham a utilização deste tipo de solução de contentorização.
Mas como em tudo na vida, não podemos ser todos do Benfica!
Se há situações em que as ilhas ecológicas são claramente a melhor solução, há muitas outras em que não é, e a sua utilização maciça é prejudicial para aquele que deveria ser o principal objectivo estratégico em matéria de resíduos: Promover  a separação,  a recuperação e a reciclagem de resíduos!
Mas Cascais há algum tempo que trocou este desiderato pelo do folclore, do bom aspecto, da foto para recordação futura. Sobre o esforço de aumento de reciclagem,  nem um número, apenas o discurso fácil do “porque vale a pena reciclar”… Fazer, seguir uma estratégia com este objectivo, não está na lista das primeiras 10.000 preocupações dos responsáveis autárquicos!
É pena. Cascais podia e devia ser um exemplo nas boas práticas ambientais e hoje acaba por ser apenas um exemplo das boas práticas de “good looking”…
A promoção da reciclagem tem que assentar em duas premissas fundamentais:
-     Facilitar a vida ao munícipe na tarefa que se lhe reserva na separação dos resíduos para futura recuperação ou reciclagem;
-         Diferenciar o tratamento dos munícipes que separam dos que não separam.
Enquanto os responsáveis não entenderem que este é o único caminho com a possibilidade de sucesso, tudo o resto não passará de um jogo de ilusões: fala-se muito de reciclagem e de ambiente mas não se pratica!
As ilhas ecológicas têm alguns aspectos positivos indesmentíveis. Em termos de mobiliário urbano são das soluções mais bem concebidas e com um excelente aspecto visual, evitam os maus cheiros e não implicam uma excessiva ocupação e obstrução da via pública. Já a “vantagem” que lhes é atribuída de diminuição de emissões de CO2 nas operações de recolha, é um aspecto que pode ser melhor discutido e que me suscita verdadeiras dúvidas sobre a veracidade deste argumento.
Mas, com tantas vantagens e bons atributos, quais são as hipotéticas desvantagens?
São várias, e pertinentes.
A primeira relaciona-se com o facto de se tratar de uma contentorização de grande capacidade (variam entre 3 e 5 m3). Quanto maior é a capacidade do contentor, maior a população que serve. Ora se estivermos perante zonas urbanas de elevada densidade, a distância do local de produção dos resíduos não será grande (e aí justifica-se a utilização desta solução!) mas, se esta condição não se verificar, aumentamos a distância a percorrer pelo munícipe com os seus resíduos e aumentamos a sua indisponibilidade para separar!
Quando discuto estes assuntos recordo-me sempre do exemplo vivido em 2004 quando a Tratolixo, através da COLEU, iniciou a recolha de recicláveis nas freguesias de Alcabideche e S. Domingos de Rana. Num mês duplicou-se a oferta de ecopontos nestas duas freguesias e nesse mesmo mês, sem qualquer esforço de sensibilização adicional, duplicámos as quantidades recolhidas de resíduos recicláveis. Porquê? Diminuímos a distância a percorrer pelos produtores de resíduos, aumentámos o número de pessoas disponíveis para separar os seus resíduos!
Tão simples!
Outro aspecto prende-se com o preço deste tipo de contentor. É claramente muito elevado quando comparado com as outras soluções disponíveis no mercado. A  pergunta que se pode colocar é se em Cascais já chegámos à fase do luxo…
O terceiro aspecto a considerar é, numa lógica de incentivar a colaboração dos munícipes neste objectivo de melhorar a nossa performance ambiental, se deve ser dada a prioridade de proliferação de ilhas ecológicas para receber os recicláveis ou se em alternativa, seria preferível e desejável tomar medidas para a criação de soluções de recolha porta-a-porta nas zonas de maior densidade urbana.
Claro que a discussão e a tomada de decisões sobre este tema implicaria que era uma prioridade para a gestão autárquica em Cascais o que, como é bom de confirmar, não é de todo.
A prioridade em Cascais é o aspecto, o parecer moderno, parecer inovador, parecer, parecer, parecer…
Já o ser, pouco importa, desde que, pelo menos, pareça…