A Câmara Municipal
de Cascais anunciou nos princípios de Abril, com uma ponta de orgulho, a
instalação de 528 contentores subterrâneos para Resíduos Sólidos Urbanos,
resíduos indiferenciados e recicláveis, nomeadamente as fileiras de papel
cartão, plástico e metal e vidro.
É um investimento
de 2,5 milhões de euros, com um co-financiamento comunitário de 639.000 euros.
Esta é uma
estratégia seguida pela Câmara de Cascais nos últimos anos que sendo apresentada
como inovadora e defensora do ambiente é, no meu entender, uma solução errada e
exactamente ao contrário daquilo que a CMC e a EMAC deveriam estar a promover na promoção
de melhor defesa ambiental de Cascais.
Posso explicar a
minha tese.
Não sou contra a
introdução de contentorização enterrada em determinadas e específicas
situações. Efectivamente há circunstâncias que aconselham a utilização deste
tipo de solução de contentorização.
Mas como em tudo na
vida, não podemos ser todos do Benfica!
Se há situações em
que as ilhas ecológicas são claramente a melhor solução, há muitas outras em
que não é, e a sua utilização maciça é prejudicial para aquele que deveria ser
o principal objectivo estratégico em matéria de resíduos: Promover a separação, a recuperação e a reciclagem de resíduos!
Mas Cascais há
algum tempo que trocou este desiderato pelo do folclore, do bom aspecto, da
foto para recordação futura. Sobre o esforço de aumento de reciclagem, nem um número, apenas o discurso fácil do “porque
vale a pena reciclar”… Fazer, seguir uma estratégia com este objectivo, não
está na lista das primeiras 10.000 preocupações dos responsáveis autárquicos!
É pena. Cascais
podia e devia ser um exemplo nas boas práticas ambientais e hoje acaba por ser
apenas um exemplo das boas práticas de “good looking”…
A promoção da
reciclagem tem que assentar em duas premissas fundamentais:
- Facilitar a vida ao
munícipe na tarefa que se lhe reserva na separação dos resíduos para futura
recuperação ou reciclagem;
- Diferenciar o tratamento
dos munícipes que separam dos que não separam.
Enquanto os
responsáveis não entenderem que este é o único caminho com a possibilidade de
sucesso, tudo o resto não passará de um jogo de ilusões: fala-se muito de
reciclagem e de ambiente mas não se pratica!
As ilhas ecológicas
têm alguns aspectos positivos indesmentíveis. Em termos de mobiliário urbano
são das soluções mais bem concebidas e com um excelente aspecto visual, evitam
os maus cheiros e não implicam uma excessiva ocupação e obstrução da via
pública. Já a “vantagem” que lhes é atribuída de diminuição de emissões de CO2
nas operações de recolha, é um aspecto que pode ser melhor discutido e que me
suscita verdadeiras dúvidas sobre a veracidade deste argumento.
Mas, com tantas
vantagens e bons atributos, quais são as hipotéticas desvantagens?
São várias, e
pertinentes.
A primeira
relaciona-se com o facto de se tratar de uma contentorização de grande
capacidade (variam entre 3 e 5
m3). Quanto maior é a capacidade do
contentor, maior a população que serve. Ora se estivermos perante zonas urbanas
de elevada densidade, a distância do local de produção dos resíduos não será
grande (e aí justifica-se a utilização desta solução!) mas, se esta condição
não se verificar, aumentamos a distância a percorrer pelo munícipe com os seus
resíduos e aumentamos a sua indisponibilidade para separar!
Quando discuto
estes assuntos recordo-me sempre do exemplo vivido em 2004 quando a Tratolixo,
através da COLEU, iniciou a recolha de recicláveis nas freguesias de Alcabideche
e S. Domingos
de Rana. Num mês duplicou-se a oferta de ecopontos nestas duas freguesias e
nesse mesmo mês, sem qualquer esforço de sensibilização adicional, duplicámos
as quantidades recolhidas de resíduos recicláveis. Porquê? Diminuímos a
distância a percorrer pelos produtores de resíduos, aumentámos o número de
pessoas disponíveis para separar os seus resíduos!
Tão simples!
Outro aspecto
prende-se com o preço deste tipo de contentor. É claramente muito elevado
quando comparado com as outras soluções disponíveis no mercado. A pergunta que se pode colocar é se em Cascais
já chegámos à fase do luxo…
O terceiro aspecto
a considerar é, numa lógica de incentivar a colaboração dos munícipes neste
objectivo de melhorar a nossa performance ambiental, se deve ser dada a
prioridade de proliferação de ilhas ecológicas para receber os recicláveis ou
se em alternativa, seria preferível e desejável tomar medidas para a criação de
soluções de recolha porta-a-porta nas zonas de maior densidade urbana.
Claro que a discussão
e a tomada de decisões sobre este tema implicaria que era uma prioridade para a
gestão autárquica em Cascais o que, como é bom de confirmar, não é de todo.
A prioridade em
Cascais é o aspecto, o parecer moderno, parecer inovador, parecer, parecer,
parecer…
Já o ser, pouco
importa, desde que, pelo menos, pareça…
Sem comentários:
Enviar um comentário