As últimas notícias
que nos chegam da Tratolixo ou com ela relacionadas são altamente preocupantes
e indiciadoras de que não há um rumo definido para a empresa ou para a gestão
dos resíduos nos quatro municípios que a detêm (Cascais, Mafra, Oeiras e
Sintra).
A Unidade de
Digestão Anaeróbia construída em Mafra está muito longe de iniciar a sua
actividade normal porque apresenta problemas tecnológicos graves de difícil
resolução.
Para mim não é
novidade que assim seja.
Fazer a Digestão
Anaeróbia de Resíduos Sólidos Urbanos indiferenciados não é a mesma coisa que
o fazer a partir de Resíduos Orgânicos recolhidos selectivamente.
Brecht - Bélgica |
Há experiências
muito bem sucedidas de Digestão Anaeróbia com matéria orgânica recolhida
selectivamente, já a utilização de RSU indiferenciado neste tipo de técnica…
Houve, em 2004, o
cuidado de confirmar a bondade da tecnologia de Digestão Anaeróbia e a
qualidade relativa dos vários tecnólogos presentes no mercado.
Realizou-se um
périplo de visitas a várias instalações na Europa, Bélgica - Brecht (Tecnologia DRANCO), Holanda - Lelystad (Tecnologia BIOCEL), Alemanha - Lemgo (Tecnologia LINDE-KCA) e Braunschweig (Tecnologia KOMPOGAS), Espanha - Ávila (
Tecnologia Rós Roca) e Barcelona (Tecnologia Urbaser).
Foi possível
perceber que a qualidade do tipo de resíduos à entrada, o seu nível de
contaminantes, era uma questão fundamental para o bom desempenho deste tipo de
tecnologia.
No âmbito do
Concurso Público Internacional concorreram 6 consórcios, com preços a variar
entre 37,8 M€ e 56 M€.
A adjudicação
recaiu sobre a proposta economicamente mais vantajosa que por sinal era também
a de menor valor, apresentada por Mota Engil / Zagope / Urbaser .
Infelizmente, os
autarcas de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra em 2007 demonstraram dar pouca
importância ao trabalho técnico realizado no âmbito da elaboração do Plano
Estratégico de Resíduos Sólidos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra.
Lemgo - Alemanha |
É que as opções
tomadas de enveredar pela recolha selectiva do orgânico estava intimamente
ligada com a solução escolhida para complementar a capacidade de tratamento de RSU
– a digestão anaeróbia.
Cedo algumas vozes
trataram de invocar que a recolha selectiva de Resíduos Orgânicos era muito
dispendiosa.
Ela é mais cara
inicialmente, é um facto, mas não é menos verdade que o facto de disciplinar a
população a separar os Resíduos Orgânicos permitiria, a prazo, reduzir o número
de fluxos de recolhas selectivas, podendo vir a juntar-se as fileiras papel e
plástico.
Mas, como tenho
afirmado inúmeras vezes, a questão dos Resíduos Sólidos Urbanos não é uma
questão específica do tratamento, ou da recolha ou do destino final. Se não for
estudada uma solução que domine estas três vertentes, a solução será sempre
frágil e pouco sustentável.
Os autarcas dos
quatro municípios não quiseram entender isto e agora o resultado é este.
Braunschweig - Alemanha |
A ligeireza de
decidir baixar significativamente as metas de Matéria Orgânica recolhida
selectivamente colocou em causa o equilíbrio financeiro que a lógica imprimida
ao Plano Estratégico de Resíduos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra mantinha.
Esta medida, a par da falta manifesta de empenho em relação aos fluxos dos
recicláveis, ditou a implosão do Project
Finance e, consequentemente, do financiamento do investimento iniciado em
2003.
Se os objectivos
que geram receitas são “aliviados” mas se mantemos os investimentos ou mesmo os
aumentamos, não há Project Finance
que resista!
Nos meandros de
Cascais e da actual Administração da Tratolixo chovem comentários pouco abonatórios
relativamente ao Plano Estratégico desenvolvido em 2003 e que foi abruptamente
amputado em 2007.
Sei que a memória é
curta, e que é fácil casar meios argumentos com metades de verdades, mas os
números esses, para o bem e para o mal, falam por si!...
Este facilitismo
gritante tem responsáveis políticos claros e tem gestores também com
responsabilidades que prometeram o trabalho e a solução que não estavam
habilitados para conseguir implementar!
E bem pode Carlos Carreiras acenar
agora com capital brasileiro que parece querer entrar com 40 M€ na Tratolixo que
não consegue apagar a sua co-responsabilidade neste desastre anunciado.
Já sobre Domingos Saraiva não
tenho mais nada a juntar e os Presidentes das Câmaras já perceberam o que a
casa gasta mas, já que se prontificou a comer a carne, que se mantenha até que
apareça osso…
Confesso que fiquei
siderado quando assisti em 2007 ao anúncio por Domingos Saraiva de que
se iria fazer um reajustamento às metas de Resíduos Orgânicos recolhidos
selectivamente (para menos de metade) e que se iria solicitar ao tecnólogo a
quem já tinha sido adjudicada a Digestão Anaeróbia de Mafra, após concurso
público, para reformular o projecto daquela unidade para passar a operar com
resíduos sólidos urbanos recolhidos indiferenciadamente.
Dez milhões de
euros depois, tal o custo das alterações introduzidas e a somar aos 37,8 M€, a
Tratolixo tem uma Unidade de Digestão Anaeróbia que não funciona.
São quase 50
milhões de euros que ali estão investidos!
E agora?
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