segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Pode-se apagar o passado com Rebranding?


A Câmara Municipal de Cascais iniciou um processo de concentração das suas empresas municipais e agências que pode ser discutível quanto aos resultados anunciados versus aqueles que irão ser obtidos, nomeadamente quanto a poupanças, mas não é exactamente esse o assunto a discutir aqui e agora.
Mas uma das decisões, a de renomear a EMAC e o resultado final da concentração pretendida de lhe juntar as Agências Cascais Natura e Cascais Atlântico, é merecedora de crítica veemente, pelo absurdo que encerra, pelos motivos que espreitam por detrás da cortina, por se tratar de uma decisão desprovida de defesa ao nível da imagem, do negócio e dos custos associados.
A EMAC é claramente uma das jóias da coroa da acção desenvolvida pelos executivos liderados por António Capucho em Cascais a que, modéstia à parte, eu estive ligado à sua concepção e implementação, quer na sua primeira administração, com Rui Libório e Carlos Reis, quer  numa comissão criada por António Capucho que estudou a sua implementação, com Carlos Carreiras e João Dias Coelho.
Para mim é e será sempre motivo de um enorme orgulho ter estado ligado à génese da EMAC.
Agora, anunciada a intenção de “rebranding” da EMAC, vale a pena analisar as razões, os objectivos e a eficácia de tal medida.
A EMAC foi um caso de sucesso à nascença.
Com a eficiência dos muitos profissionais que trabalham naquela empresa aos mais variados níveis e funções, e com o modelo de gestão nela implementado desde a primeira hora, foi possível garantir um reconhecimento público muito favorável na actividade desenvolvida pela EMAC.
Este reconhecimento manteve-se ao longo dos seis anos de actividade que já leva e sedimentou-se de uma forma muito sólida.
A empresa agora liderada por Rui Libório é quase um “case study” do que pode e deve ser uma empresa municipal com uma elevada capacidade operacional e qualidade de serviço prestado ao nível da limpeza pública e recolha de resíduos sólidos urbanos. 

Por isso, promover o rebranding de uma empresa com seis anos que detém uma excelente imagem pública é, no mínimo, um péssimo acto de gestão.
A renomeação da EMAC, iniciais de Empresa Municipal Ambiente Cascais, para Cascais Ecológico é de um mau gosto brutal e um retrocesso nos conceitos modernos da gíria ligada aos conteúdos do ambiente.
Mas é acima de tudo uma medida anti-económica, atendendo aos custos de alteração de logótipos existentes em milhares de contentores, ecopontos, papeleiras, viaturas de recolha, viaturas operacionais e de transporte de pessoal ou o desperdício no estacionário existente, brochuras, panfletos, publicidade estática, etc.  
Ora estes custos vão ser suportados pelo erário público, pelo que não se entende a leveza com que tal medida é tomada!
Também ao nível da notoriedade  quase que se pode considerar um atentado à lógica e à sanidade mental.
Tomara Lisboa, Sintra ou Oeiras, só para usar exemplos próximos, ter um activo com imagem tão positiva e com tão boa notoriedade pública como Cascais tem com a sua EMAC. Nada pode justificar deitar fora tal património!
Só encontro uma razão para justificar esta medida e, a confirmar-se, é tão mesquinha, tão rasteira, que não tenho outras palavras para a classificar.
Esta medida de renomeação da EMAC só parece ter uma intenção inconfessável, que é apagar definitivamente as suas origens no mandato exercido por António Capucho e fazer parecer que se trata de algo que foi criado na gestão municipal exercida por Carlos Carreiras.
Se é esta a razão, e a profunda reflexão que tenho feito sobre este assunto não me levou a outra, então chegámos a um nível da gestão autárquica e do exercício do poder político nunca antes visto, desbaratando-se dinheiros e recursos públicos com objectivos que de público e da defesa dos seus interesses não tem nada.
É revelador. Muito!