sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Limpeza Urbana – Descobrir as diferenças…



Quando olhamos para o actual estado da arte da limpeza urbana em Cascais, Oeiras e Sintra percebemos a existência de realidades muito distintas e níveis de operacionalidade e qualidade de serviço prestados assustadoramente diferentes.
Cascais tem hoje uma qualidade muito acima da média nacional e quando comparado com a realidade vivida em Oeiras ou em Sintra então a diferença é abissal!
Mas nem sempre foi assim.
Quem primeiro percebeu este fenómeno foi Isaltino Morais que, na segunda metade dos anos oitenta e nos anos noventa transformou Oeiras num modelo nacional nas políticas de resíduos.
Lembro-me, enquanto autarca em Cascais, de 1986 a 1993, de olhar para Oeiras com inveja, numa altura em que Cascais, nesta como em outras matérias, estava a anos luz da qualidade e eficácia de Oeiras.
Cruzar a fronteira entre os dois municípios era um golpe doloroso para quem sentia uma paixão pela sua terra, Cascais!...
Mas, por ironia do destino, assistimos a uma dupla inversão no rumo dos acontecimentos: por um lado o arranque em 2006 da EMAC em Cascais e a substantiva melhoria da qualidade dos serviços prestados e por outro a passagem de Madalena Castro pelo pelouro do Ambiente em Oeiras, que conseguiu destruir tudo o que os serviços municipais de Oeiras tinham de bom – quadros, brio profissional, amor à camisola – transformando Oeiras num trivial município onde, como em muitos outros municípios do país, o lixo se acumula, há uma profunda falta de organização dos meios, os profissionais não são briosos na sua actuação, vive-se um deixa andar que prejudica, e muito, a imagem do município.
Isaltino Morais não percebeu (ou não quis ou não pôde…) o problema que Madalena Castro estava a criar e perdeu, em definitivo, a capacidade de garantir qualidade ao serviço prestado em questões de limpeza e recolha de resíduos.
Tentou emendar a mão entregando neste mandato o pelouro a Ricardo Barros, autarca competente e dedicado mas, começar de novo não é fácil!...
Em Cascais, por outro lado, existe um serviço igual ao que de melhor se faz na Europa e no mundo!
Qual o segredo?
São vários. A Empresa foi montada em tempo recorde mas em que mais de metade dos efectivos foram recrutados de novo e formados com técnicas de motivação pessoal a que não são alheios a atribuição de prémios de produtividade, indexados à quantidade e qualidade do trabalho desempenhado.
Por outro lado a introdução de mecanismos de controle, monitorização, avaliação e fiscalização da actividade desenvolvida diariamente permite à Administração manter a “rédea curta”.
Os bons resultados, os elogios, motivam as equipas e está encontrada a fórmula.
Em Oeiras, nunca foi tomada a decisão de avançar com a empresarialização desta área de actividade, e as dificuldades legais à contratação de pessoal aliada à impossibilidade legal de horas extraordinárias sem fim (forma utilizada para “premiar” financeiramente os funcionários) ditou o colapso de um serviço que já foi modelo.
E Sintra?
Sintra nunca conseguiu sair da cepa torta. Controlou os danos parcialmente entregando parte do concelho em concessão à empresa SUMA, onde mantém um serviço razoável, mas o restante concelho é operado por uma empresa municipal – HPEM – mas de uma forma muito medíocre.
Em minha opinião não é alheio o facto de a cadeia de comando em Sintra ser um autêntico labirinto (uns têm os Pelouros, mas não tutelam as empresas municipais da área, as administrações das empresas são retalhadas por representações partidárias) o que não é garantia de operacionalidade.
Em Sintra, o Pelouro de Ambiente está entregue ao Vice-Presidente, autarca dedicado, responsável e competente mas a HPEM responde directamente ao Presidente da autarquia.
Pior ainda, é o facto de a HPEM ser presidida por um militante centrista, Eng. Rui Caetano, que nos anos que leva de administração da empresa tem evidenciado uma profunda falta de sensibilidade para os desafios que a preservação ambiental coloca. O resultado está à vista e não podia ser outro.
Ao nível dos índices de reciclagem, por exemplo, Sintra é o quarto classificado nos 4 municípios que compõem a Tratolixo. Está tudo dito!
O modelo de gestão da HPEM enferma ainda de um problema grave que desresponsabiliza todos, a começar pela gestão. O orçamento da empresa vive de transferências do orçamento do município, sem objectivos concretos de gestão, sem margem de manobra de evidenciar o mérito dos gestores. Bem ou mal feito, bem ou mal gerido, o dinheiro está garantido. Assim é fácil ser-se administrador!...
Com a nova moda de diabolização das Empresas Municipais aguardemos os novos desenvolvimentos.
Pessoalmente não acredito que Oeiras resolva o seu grave problema com uma solução de serviço municipal, assim como Sintra dificilmente encontrará uma estratégia bem sucedida sem mudar profundamente a sua organização e o modelo de gestão da HPEM.
Cascais está no bom caminho mas aguentará o balanço?

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tratolixo à beira do colapso!


Desvirtuado o Plano Estratégico, destruído o Project Finance, com a subida em espiral dos investimentos inicialmente previstos, com um serviço da dívida insustentável, com as receitas próprias a caírem e os custos a cavalgarem, com a impossibilidade prática de encostar a Tratolixo por patacos à EGF,  sem um rumo e principalmente sem ambição, a Tratolixo corre o risco de colapsar.
O sonho comanda a vida, dizia, e bem, o Poeta, mas acrescento eu que sem o sonho são as circunstâncias que nos dirigem, a maioria das vezes por maus caminhos e com maus resultados.
Este é o crime que não me canso de denunciar e que foi feito com a Tratolixo e o  Sistema de Resíduos Sólidos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra.
A Tratolixo em 2003 ganhou um caminho, uma ambição, uma estratégia sustentada.
Em 2007 perdeu isso tudo, trocando-o por navegação à vista, por ausência de estratégia, de um caminho.
Essa navegação à vista tem custado rios de dinheiro e torna completamente insustentável os custos do sistema para os municípios que o compõem.
Hoje a Tratolixo está no ranking das empresas mais endividadas.
Podia ser também um exemplo de sucesso de investimento  suportado pela actividade da empresa mas não, as alterações introduzidas transformaram isto num peso insustentável para as finanças de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra.
Entregar a gestão de uma empresa com estas características a quem não percebe a lógica autárquica, a quem desconhece por completo essa realidade, só poderia dar este resultado!
Agora o último bordão é a anunciada decisão de acabar com a AMTRES, a Associação de Municípios que é detentora do capital social da Tratolixo.
Outro erro magistral.
A participação directa dos municípios no capital da Tratolixo significará a entrada directa na dívida de cada uma das câmaras do correspondente valor da quota parte de cada município.  Quais as que aguentam levar de rajada com mais uns milhões?
Depois das trapalhadas que fizeram com a gestão desta empresa, parece-me existir apenas uma saída airosa para acertar o passo da Tratolixo sem penalização dos municípios que os integram:
Repescar o Plano Estratégico reformulando-o no sentido de uma maior ambição ao nível dos recicláveis, autonomizar as receitas da empresa garantindo a cobrança directa aos munícipes, centralizar as recolhas dos recicláveis, avançar com a recolha porta-a-porta dos recicláveis e a recolha selectiva da matéria orgânica, fazendo com que a componente das receitas geradas directamente pela actividade da empresa possa aumentar substancialmente e dessa forma minorar a participação directa das Câmaras nos custos da empresa. Um segundo passo deverá ser a privatização de parte do capital da Tratolixo por forma a diminuir o peso da dívida correspondente a cada município.
Sem estas medidas e a devolução de ambição à sua gestão, Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra poderão correr o risco de ficar sem soluções para o tratamento das mais de mil toneladas diárias de resíduos produzidos nos quatro concelhos.
Quererão os actuais responsáveis autárquicos destes quatro concelhos, que são responsáveis pela criação desta situação de pré-catástrofe, ficar com esta responsabilidade?